PAZ? NEM DE BROMA

Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé, tenho-vo-lo dado” (Josué, 1:3)


Abbas faz exigências impossíveis sobre Israel porque não é capaz de comprometer aos seus árabes a concessão alguma. Não lhes pode vender nem a melhor oferta de paz imaginável, porque já não é ninguém. O seu período presidencial expirou, e inclusso Fatah já se opõe ao seu mandato. A debilidade de Abbas é a sua força: quanta menos tem, mais lhe dá Obama. Abbas conta com o apoio diplomático dos EEUU em vez de contar com o dos seus, com os abraços de Obama em vez dos de Haniye, com o armamento norteamericano em vez do controlo sobre o terreno. Obama vai caminho de converter a Abbas noutro Karzai, uma marioneta desprezada e impotente.

Obama intentou a clássica jogada tipo Harvard de fazer cada vez mais concessões: os israelis devem destruir os assentamentos, os árabes levantar parcialmente o bloqueo comercial, e assim. Isso não funcionará porque o intento de desmantelar qualquer dos mais insignificantes assentamentos seria a sentença de morte do Governo Netanyahu, e moderar a proibição de comércio com Israel, mentres os habitantes de Gaza estám na misséria, incitaria um maior malestar nos países árabes.

Os grandes conflitos implicam grande hostilidade por ambas partes e nada têm a ver com a via da boa vontade e das graduais concessões mútuas. Só podem rematar com um acordo satisfatório quando uma das partes resulta inquestionavelmente derrotada, ou ambas partes exaustas. Essas condições não existem actualmente.

Hamas está dividida em duas facções com pontos de vista opostos. A Hamas de Gaza está aberta à solução dos dois Estados, mentres a Hamas de Síria não quere nem ouvir falar disso. A distinção é simples: em Gaza, os líderes de Hamas querem algo semelhante a uma vida normal, mentres em Damasco são marionetas iranianas que cobram por avivar o conflito. Destruíndo Hamas em Gaza, Israel fortalece o campo do rechaço em Damasco.

A distinção Fatah/Hamas é artificial. A autêntica diferença radica entre os velhos e cansos dirigentes e os militantes jóvenes. Quanto mais jóvenes, mais militantes: tanto os dirigentes de Hamas como os de Fatah enfrontam-se a uma dura competência com a geração mais jovem de terroristas. Ambos grupos têm numerosas facções; Fatah tem algumas mais. A pertenza cruzada desvirtua a distinção entre ambos grupos. No novo Parlamento palestiniano, militantes de distintas tendências cooperarão contra os moderados mas impotentes dirigentes.

As concessões israelis incitam enormemente aos árabes. Têm o exemplo de Egipto, que promoveu três guerras contra Israel e numerosas ofensivas, mas recuperou o 100 % do seu território. A mera existência de Israel implica que os palestinianos não podem lograr uma solução ao 100 %. E tratam de evitar a humilhação boicotando as conversas. Na medida em que Israel entregue as cidades do West Bank à polícia de Fatah e modere as restricções de movimento, os palestinianos terão menos motivos para negociar. Como sinalou Abbas, eles levam uma vida normal e podem agardar por tempo indefinido –especialmente na medida em que eles não podem fazer concessão alguma.

Nenhum Governo israeli poderá desmantelar demassiados assentamentos. Inclusso Ehud Barak apoia o crescimento natural nos já existentes. Nenhum Governo palestiniano pode aceitar que sigam aí. Duas nações não podem coexistir com uma fronteira fazendo um constante zigzague arredor de cada vila, como o deambular dum borracho.

Duas vias de desenvolvimento são possíveis. Se, de modo mais bem improvável, os palestinianos moderados ganham, oferecerão aos colonos judeus a cidadania palestiniana, e muitos colonos a aceitarão para evitar uma expulsão terrorífica tipo Gush Katif. Mais provavelmente, os palestinianos aferrarão-se à solução de um só Estado. Isso permite-lhes evitar a concesão do que consideram que é território palestiniano a Israel, e deixa aberta a opção de combater a morte a Israel mediante o civilizado procedimento do crescimento demográfico.

O Governo israeli poderia reagir de três maneiras: 1. Restringir a influência política dos residentes palestinianos tanto como seja possível, quiçás através duma confederação com o West Bank. 2. Israel poderia retirar-se unilateralmente dos territórios abandoando uns quantos assentamentos dispersos. 3. Com um Governo sensato, Israel deveria dar-se conta de que os palestinianos do West Bank são muito poucos como para supôr uma ameaça demográfica, e incorporar Yehuda e Shomron a Israel –que, em todo caso, não é um Estado judeu.

O melhor respeito da pressão norteamericana sobre Israel é que procede dum Governo democrático. Graças à sua curta duração, nenhuma Administração dos EEUU pode forçar a Israel a aceitar uma solução que não queira. A paz egípcio-israeli apontalou-se freneticamente nas negociações Begin-Sadat com Carter levando-se os loureiros de outros. Em poucos meses, Obama estará abocado a uma profunda crise com Netanyahu, e ambas partes abandoarão a comunicação “produtiva”. Em poucos anos, o Governo de Netanyahu colapsará. A essas alturas, Obama estará encarando a reeleição e não se arriscará a incomodar aos votantes judeus. Então chegará outro Presidente, e volta a começar.

Combatímos contra Síria, Egipto e Iran há três milheiros de anos, e seguiremos combatendo nos séculos vindeiros. A democracia norteamericana, e os seus dirigentes, são apenas um insignificante parpadeo no radar da nossa história.


OBADIAH SHOHER

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