GANHOU HAMAS?


As afirmações de Hamas sobre a sua vitória na guerra de Gaza estám bem fundamentadas. Um governo que sobrevive a uma guerra reforza a sua hegemonia. São raros os casos em que a derrota militar é tão humilhante que o governo sobrevivente não pode cantar vitória. Em 1967, Síria e Egipto sofriram uma rotunda humilhação militar, mas não perderam a guerra: os seus governos sobreviveram, e os seus territórios e exércitos ficaram avondo intactos.


Hamas segue no poder tras a guerra de Gaza, e pode Israel reclamar uma vitória baseada na humilhação? Seria uma possibilidade se tivéssemos detido a guerra no seu segundo dia. Tras 400 ataques aéreos que devastaram toda a infraestrutura de Hamas sobre o terreno, e grande parte da que se achava baixo terra, Israel retomou a estratégia da disuasão, quando o ataque ía caminho de ser inquestionavelmente devastador e a operação humilhantemente exitosa. O problema é que o Governo israeli não se guiou por um critério correcto e não declarou o imediato final do operativo. As semanas de indecisão, de combate desorientado, deram pé a que Israel só exigisse a sustituiçõ de Hamas no poder ou, quando menos, que deixassem de lançar foguetes. Nenhum destes objectivos se alcançou, e a operação rematou numa mera intentona falhida. Hamas sobreviveu à guerra e reanudou as suas actividades –o que, com rigor, pode ser exibido por eles como uma vitória.


Existe uma subtil diferença entre ganhar e não perder. Na guerra, o objectivo de Hamas foi sobreviver mais que destruir a Israel. Nesse sentido, o grupo terrorista tem vencido. Em termos de impacto internacional Hamas também se tem apontado uma vitória sobre Israel: longe de sofrer uma humilhação, os palestinianos têm sabido vender muito bem a image do seu sofrimento.


Uma razão capital para a evacuação israeli de Gush Katif fora rematar com os incessantes ataques palestinianos; os judeus já abandoaram o norte devido aos ataques com mísseis procedentes do Líbano; Sderot, achicharrada polos bombardeos desde Gaza, perdeu uma parte significativa da sua população. Pelo contrário, os habitantes de Gaza continuaram apoiando a Hamas a pesar da destrucção exercida sobre eles por Israel. Poderemos argumentar que os judeus que fogiram agiram razoavelmente mentres que os árabes que decidiram permanecer não, mas isso é uma discussão irrelevante: para além de quem tenha razão, os habitantes de Gaza demonstraram uma grande capazidade de resistência moral ante a força invasora. E, de passo, obtiveram também uma vitória moral.


Como poderia Israel ter evitado uma vitória de Hamas e dos palestinianos em geral? Uma opção já a expugemos: mediante um intensivo e humilhante assalto aéreo. A outra opção era a pretendida por muitos dos soldados das IDF em Gaza: pressionar e destruir a Hamas nas suas madrigueiras. Uma vez no terreno, muitos soldados amosaram-se a favor de obviar os “jogos de guerra” do Governo e entrar a fundo em Gaza. O Governo ordeou a retirada e brindar em bandeixa a vitória a Hamas.



OBADIAH SHOHER


18 Shevat 5769 / 12 Fevereiro 2009

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