VALE SHALIT 1.000 TERRORISTAS?


Os cavaleiros e magnates medievais raramente combatiam contra os omnipresentes salteadores que asediavam as suas propriedades. A consequüência mais comum era o pago de um rescate. Também a Torá exige aos judeus rescatar aos seus compatriotas. Nós, sem embargo, consideramos que o pago de rescates é algo inaceitável.


O efecto do rescate é trasladar o risco da vítima actual a outras vítimas potenciais. O pago de rescates benefícia a um indivíduo, mas anima aos terroristas a capturar a outros reféns. No nosso caso, os outros reféns serão também judeus, e temos a obriga de mirar por eles. Os cavaleiros medievais eram muito poucos como para constituir uma sociedade. Cada um de eles não se adicava a cuidar dos outros, e afastavam o risco pagando rescates e, como dixemos, animando aos bandoleiros a que asediassem a outros.


O caso da Torá é diferente. Os seqüestros actuais não têm mais valor que o que supõe o pago dum rescate; o pago de rescates incrementa o valor dos subseguintes seqüestros, mentres que o rechaço dos rescates disuade aos seqüestradores de levar a cabo novas intentonas. Na antigüidade, os seqüestros tinham um valor intrínseco –já que os seqüestrados podiam ser vendidos como escravos. Rechaçar o pago do seu rescate não desmotivava aos delinqüentes, que poderiam conseguir igualmente o dinheiro vendendo aos judeus seqüestrados no mercado de escravos. Quando os seqüestrados careciam dum valor intrínseco (por exemplo, se eram velhos) e eram capturados só para praticar a extorsão, não deviam ser rescatados para evitar sentar precedentes; assim, o Rabbi Meir de Rotemburg, no século XIII, proibiu à sua comunidade que pagassem rescate por ele. Os rabinos tomaram conciência do problema do valor intrínseco, e assim o Talmud (Gittin 4:6) proíbe pagar rescate por judeus a um preço mais elevado que o seu valor de mercado como escravos. Os sábios reconheceram que nenhuma lei pode proibir aos familiares directos rescatar ao seu ser querido; o marido está autorizado a pagar um rescate pela sua mulher, na primeira ocasião, de até dez vezes o seu valor de mercado como escrava. Mas é o seu direito individual, não uma obriga da comunidade.


Rechaçar o pago de rescates aos terroristas a câmbio de judeus, não é moralmente mais objectável que limitar a financiação de programas médicos ou a seguridade nas estradas. Temos que cuidar dos nossos irmãos até um certo ponto. Deveria comprometer-se um Governo israeli a não disparar contra 1.000 inimigos no campo de batalha a câmbio de que eles não disparassem contra 1 soldado dos nossos?


A única coisa pior que pagar rescates a câmbio de reféns, é o intercâmbio de prisioneiros.


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