A DOBLE MORAL NA GUERRA ÁNTI-TERRORISTA

Espanha tem combatido o terrorismo separatista basco durante décadas, especialmente contra a organização ETA, que pretende a secessão dos territórios bascos de Espanha. ETA é considerada responsável da morte de mais de 800 pessoas em Espanha, um número que palidece se o comparamos com a barbárie palestiniana (isso que Espanha tem uma população seis vezes superior à israeli).


A luta ánti-terrorista em Espanha foi uma bulra de qualquer coisa que tenha a ver com os direitos humanos. Os danos colaterais e as mutilações de inocentes transeúntes foram algo habitual que caracterizaram essa luta. Os mercenários paramilitares que combateram o terrorismo incorreram rutinariamente em todo tipo de torturas aos terroristas capturados. Numerosos esquadrões da morte perseguiram aos terroristas e os que lhes brindavam apoio, exterminando-os tranquilamente fóra de olhadas indiscretas. O Governo afirmava não ter conhecimento destes sucessos. Mas pessoal da luta ánti-terrorista vinculado ao Governo sequestrou pessoas e manteve-os isolados sem aplicar o habeas corpus. Comandos ánti-terroristas cruzavam a fronteira [com França] e capturavam aos terroristas ocultos nas localidades próximas, quando não os assassinavam ali mesmo. Era habitual colocar bombas que estalavam indiscriminadamente para rematar com terroristas. Muitas dessas pessoas assassinadas e torturadas nem sequer eram membros ou simpatizantes de grupos armados. Muitas das operações ánti-terroristas tiveram lugar em flagrante violação da legislação internacional e, inclusso, da nacional. Para rematar com o terrorismo o Governo espanhol ameaçou e pressionou a outros países para perseguir aos refugiados e deportá-los.


A longa e sanguenta campanha do Governo espanhol contra os seus terroristas é interessante na medida em que ilustra a decisão dum tribunal espanhol de encausar a oficiais do exército israeli e a dirigentes políticos pelo “crime” de combater o terrorismo e proteger aos cidadãos israelis.


Dias atrás os tribunais espanhois que investigam aos dirigentes israelis por comisão de “crimes contra os direitos humanos” na batalha contra o terrorismo palestiniano, decidiram continuar com o processo aberto. Este pretende julgar a vários israelis, incluíndo a Benjamin Ben-Eliezer (actual Ministro de Comércio, mas que em 2002 era Ministro de Defesa), o General Moshe Yaalon (chefe das IDF em 2002), Avi Dichter (naquela época cabeça visível da inteligência militar), Dan Chalutz (que era comandante da IAF), e alguns outros. O tribunal espanhol agiu respondendo a uma iniciativa do “Centro Palestiniano para os Direitos Humanos”, um grupo que opina que os palestinianos têm o direito humano de matar judeus e participar em actividades terroristas, mentres que os judeus não têm o direito humano de defender-se. Outro juíz espanhol, Baltasar Garzón, já intentou processar aos EEUU e o Reino Unido por “crimes de guerra” em Irak.


Que é o que estes cidadãos israelis têm feito para persuadir aos tribunais espanhois de que é preciso persegui-los criminalmente? Espanha, nada menos. Em 2002 Israel bombardeou um edifício em Gaza no que Hamas escondia a um dos seus mais terroríficos dirigentes, Salah Shahade. Israel destruiu o edifício, assassinando ao megaterrorista, e outras 14 pessoas morreram na explosão, incluñindo a dona de Shahade e nove crianças. Shahade fora comandante da facção militar de Hamas, as Brigadas de Al-Qassam, responsáveis do interminável lançamento de mísseis e bombardeos contra os civis israelis. Provavelmente tem sido o assassinato moralmente mais justificado desde a morte do Almirante Yamamoto durante a Segunda Guerra Mundial. Hamas foi responsável directa da morte dos civis naquele incidente, devido à sua conhecida política de escudar-se sempre detrás de crianças e civis.


Ah, Espanha, o país cujo legado de crimes contra os judeus só é superado pelo de Alemanha. Deixemos de lado, por um momento, a insolência de um país como Espanha, com os seus séculos de limpeza étnica, fascismo, Inquisições, intolerância, colaboração com Hitler, e assassinatos de massas, intimidando moralmente a Israel pela SUA conduta na SUA guerra contra o terrorismo genocida. Não é preciso repassar os séculos da história espanhola para deducir o absurdo orwelliano de tudo isto. No século XXI Espanha AÍNDA está combatendo contra o terrorismo, utilizando tácticas que faz que os custes humanos das operações ánti-terroristas israelis semelhem um jogo de gardaria. Espanha nunca tem demonstrado a pretensão de proteger os direitos humanos ou de evitar danos colaterais no seu desejo de rematar com o terrorismo separatista basco. E aínda pretende que Israel limite a sua guerra contra o terrorismo islamofascista como concessão e mostra de boa vontade, encaminhada à capitulação.


Os bascos são um povo antigo, actualmente uma nação (contrariamente aos “palestinianos”), e um milheiro de vezes mais legitimados que os palestinianos para exercer a autodeterminação e a independência. Os bascos tiveram e perderam a sua independência ao longo da história. Existe uma significativa diáspora basca, nomeadamente nos EEUU, Sul África e Austrália. Os bascos sofreram a agressão das forças fascistas leais a Franco durante a Guerra Civil Espanhola nos anos 30, e Gernika, a famosa vila devastada pelas aeronaves názis enviadas por Hitler para ajudar a Franco, é uma povoação basca.


Mentres os bascos gozam dum certo grau de soberania, os separatistas bascos criaram grupos violentos depois da IIª Guerra Mundial. O mais famoso e violento é o grupo terrorista ETA. ETA é um grupo marxista-leninista relacionado com o IRA e outros terroristas. De modo rutinário sementa bombas e morte. Especialmente utiliza carros-bomba. Seqüestra pessoas e mantem-nas fechadas em “zulos”, onde sofrem torturas. ETA figura nas listas oficiais de grupos terroristas dos EEUU e Canadá. Pensa-se que mantém ligações com os carteis terroristas e da droga colombianos.


A luta ánti-terrorista espanhola assumiu imediatamente a forma da “guerra suja”, utilizando tácticas abertamente contrárias às leis internacionais. O respeito pelos direitos humanos nunca foi uma barreira para a perseguição dos mercenários espanhois do terrorismo etarra. A guerra contra o terrorismo basco foi levada a cabo nos anos 80 pelos GAL (“Grupos Antiterroristas de Liberación”), que constituiam pouco mais ou menos uns esquadrões da morte. Foram ilegalmente promovidos e financiados pelo Governo socialista espanhol para combater contra a ETA. Outros grupos paramilitares semelhantes já agiram antes dos GAL.


Os GAL foram financiados e protegidos pelo Ministério do Interior espanhol. Atacou a bascos que viviam e se desenvolviam na França, assim como na própria Espanha. Entre as mais infames das suas acções esteve o seqüestro e assassinato de Lasa e Zabala em Outubro de 1983, e o seqüestro de Segundo Marey em 1984. Os dois primeiros foram torturados por membros da Garda Civil durante várias semanas, depois introduzidos no maleteiro dum automóvil e conduzidos a mais de 500 milhas, até Alicante. Depois foram tiroteados na nuca e soterrados em cal viva.


Vários membros do Governo espanhol foram condeados em 1997 pelo seu papel na luta ilegal contra o terrorismo basco. Entre eles estava o Ministro do Interior do Governo socialista de Felipe González. O próprio Primeiro Ministro esteve baixo a grande suspeita de ter sido o autêntico promotor dos GAL. González defendeu publicamente a luta ánti-terrorista, dizendo que “a democracia defende-se tanto nos salões como nas cloacas”.


González foi obrigado a demitir como cabeza do seu Partido em 1996, em boa parte devido às inquestionáveis acusações que pesavam contra ele. Outros altos cárregos do Governo espanhol implicados nos GAL foram o Director de Seguridade do Estado [Rafael Vera], o secretário geral do PSOE em Vizcaya [Rafael García Damborenea], o Chefe da Brigada de Informação Policial de Bilbao [Francisco Álvarez], e outros altos mandos policiais.


O 19 de Abril deste ano, França, sob a pressão exercida por Espanha, deteve a vários dirigentes da ETA, incluíndo a Jurdan Martitegi Lizaso, de 28 anos, considerado o máximo dirigente etarra. Existem mais de 600 presos de ETA nos cárceres espanhois, e mais de 150 nos franceses. Nos cámpus universitários de Occidente não se promovem manifestações a favor da liberdade destes “prisioneiros políticos”. Durante os últimos dois anos mais de 360 membros da ETA foram detidos.


A hipocresia espanhola é evidente não apenas pela sua doutrina de “combata você o terrorismo como eu digo, não como eu fago”, pontificada quando se trata dos judeus defendendo-se a sim próprios. Não é menos escandaloso que Espanha dê lições a Israel sobre os seus “territórios ocupados” e a barreira de seguridade.

Espanha aínda ocupa enclaves territoriais do norte de África –Ceuta e Melilla- arrodeadas por Marrocos, e povoada por colonos espanhois. Marrocos não reconhece a legitimidade destes assentamentos espanhois na sua terra. Os colonos judeus de Yehuda e Shomron têm um milhão mais de vezes mais legítimo direito a viver ALI que os intrusos espanhois em Marrocos. Estes últimos estám arrodeados por –sim, acertáchedes!- uma enorme barreira de seguridade, e aos africanos não se lhes permite entrar. Nos últimos anos, os africanos têm sido repetidamente tiroteados ao intentar atravesar a barreira. A legitimidade da possessão espanhola destes territórios ocupados é praticamente inexistente, e trata-se duns territórios, para além disso, absolutamente prescindíveis para a seguridade de Espanha.


Essa barreira não está desenhada para evitar que terroristas genocidas intentem o extermínio de todos os espanhois. Os mesmos espanhois que exigem que os israelis derrubem a sua própria barreira de seguridade.



STEVEN PLAUT


0 comentarios: