Se o Papa Benedicto XVI apoia tão ferventemente um Estado palestiniano –que desintegraria
“Comocionou-me escuitar que o primeiro que o Papa tinha que dizer quando aterrizou em Israel foi que a Terra Santa deveria ser dividida para dar acomodo a um Estado palestiniano”, dixo Joseph Gerlitzky, rabino de Tel Aviv e portavoz do Congresso Rabínico para a Paz, que inclui a alguns dos mais prominentes dirigentes judeus.
“Proponho que divida Roma. A Terra Santa foi prometida ao povo judeu e absolutamente nenhum ser humano sobre a Terra tem direito a exigir a renúncia nem duma só pulgada deste território”, afirmou Gerlitzky.
Gerlitzky fixo estas manifestações hoje durante um discurso comemorativo da festividade judea de Lag Ba’Omer, ponto intermédio no calendário entre Pesaj e o dia no que os judeus receberam a Torá.
No seu comentário inicial, tras desembarcar no aeroporto internacional de Israel no dia de ontem, Benedicto apostou pela criação dum Estado palestiniano com a esperança de que israelis e palestinianos “podam viver em paz no seu próprio fogar nacional, com seguridade e fronteiras reconhecidas internacionalmente”.
As manifestações de Gerlitzky espelham o criticismo dirigido ao Papa pelos líderes religiosos judeus, alguns dos quais manifestaram o seu total desacordo com a visita de Bendicto à Terra Santa.
O discurso de ontem do Pontífice no famoso Museu Memorial do Holocausto de Jerusalém tem sido duramente atacado por não se aproximar nem de longe a uma apresentação de excusas da Igreja Católica, que os historiadores opinam que poderia ter feito muito mais por salvar à judearia europeia durante o Holocausto. O discurso do Papa não mencionou em momento algum as palavras “názis” ou “assassinato”.
Benedicto já fora objecto de críticas no mundo judeu a começos deste ano por anular a excomunhão dum bispo que negara o Holocausto.
Os jornais israelis de hoje vinham carregados de criticismo.
“Agardávamos que os cardinais do Vaticano tivessem preparado um discurso mais inteligente ao seu Chefe”, escreve o colunista Tom Segev.
O Presidente da Knesset, Reuven Rivlin, dixo numa entrevista radiofônica que o Vaticano e o seu Papa alemão tinham “um montão de coisas pelas que pedir perdão ao nosso povo”.
“Ademais é alemão, cujo país e povo já têm pedido perdão. Mas ele chega e fala-nos como se fosse um historiador, um observador imparcial, um homem que exprime as suas opiniões sobre coisas que nunca deveriam ter acaecido, tendo sido –que se lhe vai fazer- copartícipe de elas”.
“Se deixamos passar isto por alto, finalmente pensarão: ‘Os judeus são uns tipos manipuláveis’”, concluiu Rivlin.
Rivlin acrescentou, referindo-se ao discurso, que “tudo o que nos temíamos teve lugar”.
“Eu acudim ao Memorial não a escuitar descripções históricas sobre os factos já sabidos do Holocausto; eu acudim como judeu, agardando escuitar uma desculpa e uma petição de perdão daqueles que provocaram a nossa tragédia, e entre eles, os alemães e a Igreja. Mas, para o meu pesar, não escuitei nada semelhante”, dixo.
“A visita a Yad Vahem não constitui uma expressão de arrependimento como tal”, afirmou Rivlin. “Os olhos dos judeus do mundo inteiro, e da nação de Israel, estavam pendentes do que se passasse aquí, agardando escuitar uma desculpa honesta pelo Holocausto da sua gente. E não escuitamos nada pelo estilo”.
O portavoz do Museu do Holocausto, Avner Shalev, dixo ao “The Jerusalem Post” que houvera certa restricção no discurso papal, o que ele qualificou como “oportunidade perdida”.
“Eu não agardava uma apresentação de excusas, mas agardava algo mais”, dixo. “Este não tem sido, certamente, um fito histórico”.
Benedicto iniciou o seu discurso manifestando “Estou aquí para permanecer em silêncio ante o Monumento erigido em honra dos milhões de judeus mortos na terrível tragédia da Shoah”.
Continuando: “Perderam as suas vidas, mas nunca perderão o seu nome. Estes vam indelevelmente unidos aos corações dos seus seres queridos, os companheiros de prissão que os sobreviveram, e de todos aqueles que têm a determinação de evitar novamente uma desgraça semelhante”.
“Reafirmo –como os meus predecessores- que a Igreja está comprometida a rezar e trabalhar incansavelmente para evitar que o ódio volva a reinar nos corações dos homens”, acrescentou.
“Mentres permanecemos em silêncio aquí, os seus lamentos aínda ecoam nos nossos corações. É um grito que se ergue contra cada acto de injustiza e violência. É um reproche perpétuo contra o derramamento de sangue inocente”.
“Estou profundamente agradecido a D’us e a vós pela oportunidade de estar aquí em silêncio: um silêncio para lembrar, um silêncio para orar, um silêncio de esperança”, concluiu o Papa.
Hoje o Vaticano tem saído em defesa do Papa. O portavoz, o Reverendo Federico Lombardi, dixo aos jornalistas que Benedicto já mencionara as suas raízes alemãs previamente, especificamente quando visitara uma sinagoga em Colônia no ano 2005 e, ao ano seguinte, no campo de Auschwitz.
“Não pode estar repretindo o mesmo em todas partes”, dixo Lombardi aos jornalistas em Jerusalém.
AARON KLEIN
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