O estatuto judeu de Povo Escolhido é politicamente incorrecto. O conceito nada tem de razista: contrariamente à distinção em função da pele entre brancos e negros, qualquer pode unir-se ao Povo Escolhido convertendo-se adequadamente. O conceito, sem embargo, é insultante: todo judeu é um escolhido desde o seu nascimento, automaticamente, mentres que os gentis têm que padecer uma conversão muito dura. Carece de sentido enganar aos gentis com a cantinela de que “nós somos os escolhidos, mas isso não significa que sejamos melhores que tu”. Por suposto que é preferível ser os escolhidos que não o ser. O facto de ser escolhidos supõe a mais grande das vantagens imagináveis na mais valiosa de todas as esferas, a do reino transcendente. A Torá é explícita: os judeus foram os escolhidos. Nas nossas orações agradecemos a D’us por ter-nos escolhido de entre todas as nações e por exaltar-nos por riba de todos os povos. É grandioso ser os escolhidos pela mais alta autoridade do Universo.
Mas é sacrificado viver sendo os escolhidos. Os judeus têm muitas mais obrigas religiosas que os gentis, e portanto estám submetidos a muitos mais perigos de transgredi-las. Ser um bom judeu é tremendamente mais dificil que ser um bom gentil. Muitos judeus não vivem conforme ao facto de serem o povo escolhido, mas isso não nos deve fazer pensar que a eleição divina foi em váu.
It’s hard to live chosen. Jews have many more religious obligations than Gentiles, and therefore more dangers of transgressing them. Being a good Jew is tremendously more difficult than being a good Gentile. Many Jews do not live up to their chosen-ness, but we don’t believe that the divine choice was in vain.
O Shulhan Aruj* tem-se covertido na querida dos ánti-semitas. Adicam-se a bucear na procura de frases que demonstrem que nós não queremos aos gentis. Certo. E porque devríamos de querê-los? Durante 19 séculos, não sou capaz de achar nada positivo que os judeus receberam do mundo gentil –e, sem embargo, podo enumerar sem esforço centenares de sucessos horríveis. Mas sejamos justos. Inclusso os egípcios do Éxodo são denominados “os nossos vizinhos”, a pesar de que estavam desejando esmagar aos judeus. Estamos dispostos a tratar respeitosamente a qualquer gentil que não queira abusar de nós. O Shulhan Aruj proíbe estafar aos gentis, especialmente em tudo o relativo às medidas de peso. Ignoro se na Cristandade existe alguma proibição expressa semelhante respeito aos judeus. Os mais puristas poderão argumentar que sim, que essa proibição é deducível a partir de princípios de carácter geral; mas que seja deduzível não implica que seja obrigatória a sua observância pelos seus mercaderes.
O amor que supostamente devemos compartir é, curiosamente, de direcção única. Aínda me falta achar uma só nação que ame aos judeus. Por favor, esquecede já o mantra sobre os EEUU; arredor da quarta parte da sua população ostenta pontos de vista ánti-semitas, ao igual que se passa
Um aspecto mais complicado é o relativo ao ódio, e não como questão menor pelo facto de que o ódio seja dificilmente diferenciável do antagonismo. Naturalmente, eu ódio àqueles que ódiam aos judeus, aos que nos têm assassinado e que estám dispostos a volver a fazê-lo, chegada a oportunidade. Ódio-os no sentido de que gostosamente vingaria as mortes dos meus compatriotas judeus às mãos dos alemães ou os ucranianos, mas não no sentido de procurar activamente uma oportunidade de vingança. Provavelmente esteja errado neste ponto, provavelmente a vingança deveria ser extirpada à menor oportunidade, a todos os níveis, melhor que agardar por uma hora final que talvez nunca chegará. Ordeou-se-nos que borrássemos a memória de Amalek da face da Terra, mas em vez disso adicamo-nos a perpetuar a sua memória. Outro tanto é o que sucedeu com os názis –os judeus renunciaram a dar uma retribuição exactamente igual à recebida ao meio milhão de alemães e ucranianos implicados no extermínio, e agora promove-se incessantemente a memória daqueles criminais.
O ódio contra os opressores é uma antiga e honrosa prática dos judeus. Desde Rabban Gamliel no segundo século, maldizemos aos sectários diariamente na nossa oração de Amida e pedimos a D’us que os destrua. Por sectários não entendades os membros das distintas sectas judeas, senão àqueles cujas sectas foram criadas a partir do judaísmo –já sabedes a quem se referiam os rabinos.
Certamente, eu não despreço aos gentis nem aos ántisemitas. Existem ánti-semitas muito inteligentes, incluíndo bons escritores. Sem dúvida, o ántisemitismo é positivo para os judeus, na medida em que empuja aos mais débeis a que se assimilem e aos mais fortes a unir-se entre sim.
Detesto os ritos religiosos alheios. Rezar a iconos semelha-me uma ridiculez. Não podo senão estar plenamente dacordo com Ramban sobre a extravagância de que D’us se confinasse no ventre duma mulher judea. Assombra-me que os cristãos podam luzir nos seus pescozos cruzes de oiro –seriam capazes de luzir um patíbulo com a mesma normalidade?. Amuletos feitos em oiro de alguém que viveu e morreu na mais extrema pobreza? Nunca podo evitar que se me escape um sorriso diante dos quadros de D’us e a sua família nas catedrais (que artisticamente admiro). Se achades isto ofensivo, pensade em como vós mesmos julgades as práticas religiosas politeístas, ou na vossa opinião sobre uma pessoa dum comportamento ético inferior ao vosso na mesa contígua do restaurante, e que não sabe como abrir uma langosta. Todos os seres humanos as suas crenças particulares –a costa daqueles que têm outras diferentes.
Os rabinos ignorantes e deshonestos proclamam que os judeus deveriam abrazar-se aos gentis porque somos uma luz entre as nações. Se nos abrazamos, assimilamo-nos. Os rabinos reformistas ignorantes querem assimilação mentres que os deshonestos o que querem é não ser uma luz; Boro Park, Brooklyn, está isolado do resto dos EEUU como da cara oculta da lua. A fim de sermos uma luz, não temos necessidade de estar mesclados com ninguém. Um faro proporciona guia aos barcos com a sua luz brilhante, mas não necessita mesclar-se com eles. Como um faro, devemos manter-nos firmes e amosar com orgulho as nossas observâncias. Se vos gostam, benvindos. Se as desprezades, não nos importa.
Uma Israel judea, forte e orgulhosa, não se tem porque adaptar aos antolhos de ninguém.
OBADIAH SHOHER
* [Shulhan Aruj: codificação por escrito da Lei judea, escrita no século XVI pelo Rabino Yosef Caro].
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